cão deve entender que quem manda é o tutor
Matéria publicada na Folha de São Paulo
Adestrador e Especialista em Comportamento Canino
Ter um cão que não permite que ninguém se aproxime do tutor, ou que rosna quando alguém tenta pegar seu brinquedo, não é apenas “fofura” ou “ciúmes”. Trata-se de um comportamento problemático, que precisa ser compreendido, corrigido e prevenido. O ciúme e a possessividade nos cães estão diretamente ligados à forma como o tutor estabelece (ou não) limites no convívio diário com o animal.
Segundo Ricardo Tamborini, maior especialista em comportamento canino do Brasil, cães ciumentos ou possessivos costumam apresentar sinais claros de agressividade: rosnar, avançar ou morder. E, ao contrário do que muitos pensam, esse comportamento não surge do nada nem é apenas genético. Ele é estimulado, muitas vezes, sem que o tutor perceba.
“Medo, agressividade, ciúmes e possessividade só afloram se houver estímulo. Pode começar como uma simples brincadeira e se agravar pela ausência de correções no momento certo”, explica Tamborini.
Tutores permissivos, que não corrigem comportamentos indesejados, ensinam seus cães a fazerem tudo do próprio jeito. Isso pode levar o animal a acreditar que lidera a relação — e, por consequência, que tem direito a controlar o que quiser, inclusive pessoas e objetos.
Corrigir o cão não é sinônimo de violência. A bronca deve ser feita de forma firme, porém equilibrada, até 5 segundos após o comportamento inadequado, para que o animal associe corretamente a ação ao comando. Do contrário, a repreensão será ineficaz — ou até prejudicial.
“O cachorro não vai deixar de gostar do tutor por receber uma correção. Pelo contrário. Assim como uma criança precisa de limites para crescer segura, o cão precisa saber o que pode ou não fazer”, reforça Tamborini.
Não há fórmula mágica ou tempo exato para a melhora do comportamento. O progresso depende do empenho diário do tutor e, em muitos casos, do acompanhamento de um profissional especializado, que possa indicar a metodologia correta para cada situação. Broncas mal aplicadas podem intensificar o medo ou a agressividade.
O instinto de superproteção e o comportamento possessivo são, muitas vezes, rotulados como “ciúmes”, mas isso ocorre porque o cão vê o tutor como um recurso valioso e, por isso, tenta protegê-lo. Por isso, é essencial que o tutor seja firme, afetuoso e justo — mas jamais permissivo em excesso.
Algumas brincadeiras, como o famoso “cabo de guerra”, podem contribuir para o desenvolvimento de comportamentos agressivos se não forem conduzidas da maneira correta. Essa atividade, ao simular uma disputa, pode reforçar a mordida, o rosnado e o sentimento de posse.
“Não é que o cabo de guerra seja proibido. Mas o tutor precisa estar no controle. Se o cão rosnar, a brincadeira deve ser interrompida imediatamente. E quem termina a brincadeira com o brinquedo nas mãos deve ser o tutor, nunca o cão”, orienta Tamborini.
Se o cachorro sempre “vence” esse tipo de jogo, ele aprenderá que pode conseguir tudo usando força ou agressividade, o que reforça sua dominância.
Para um cão ter equilíbrio emocional, ele precisa entender que há uma hierarquia — e quem lidera é o tutor. Isso não exclui carinho, brincadeiras e recompensas. Mas sem limites, o que parece “ciúmes fofo” pode se transformar em um problema sério de comportamento. A orientação correta, no momento certo, é a chave para a convivência saudável entre cão e tutor.
Matéria publicada na Folha de São Paulo
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